Rádio Timbira AM 1290 KHZ completa 82 anos nesta terça-feira (15)
Emissora gerenciada pelo governo do Estado tem uma história de altos e baixos
A emissora mais antiga e com maior tempo no ar no Maranhão, que já teve como locutores os melhores profissionais do norte e nordeste, completa 82 anos de história nesta terça-feira (15). Inaugurada solenemente dia 15 de agosto de 1941, a rádio Timbira, que primeiramente foi batizada de Rádio Difusora do Maranhão, entrou no ar às 21h com o pronunciamento do interventor Paulo Ramos, que foi ouvido em mais de 60 municípios do estado em um raio de quase 20 quilômentos.
Desde que entou no ar, a rádio Timbira passou a viver uma história de altos e baixo na radiofonia maranhense. Conhecida como a pioneira, a Timbira só nasceu após outras duas rádios surgirem: Radio Sociedade, de propriedade do empresário Nhozinho Santos e Rádio Clube, que tinha como dono o também empresário Jota Travassos, que foram colocadas no ar em meados de 1923, e desapareceram em 1924 por falta de publicidade para mantê-las funcionando.
A Rádio Timbira só nasceu 17 anos depois das rádios Sociedade e Clube, que já não existiam mais. Mesmo sendo uma emissora pública, a Timbira chegou a ser arrendada em 1944 para o empresário Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, mais conhecido por Assis Chateaubriand, que era também jornalista, escritor, advogado, professor de direito, mecenas e político brasileiro. Com a emissora em seu poder, Chatô, que batizou a emissora com o nome de Rádio timbira, em homenagem aos ´povos indígenas que habitavam no estado, conseguiu se eleger senador da República, sem sequer vir ao Maranhão, segundo relatos de monografias existentes em bibliotecas da Faculdade Estádio de Sá (Autores: Edimilson do Carmo, Tarcísio Brandão e João Filho) e Universidade Federal do Maranhão (Autor: Gleydson Botelho).
No início de sua história, a Rádio Timbira, quer era uma emissora popular, passou por momentos memoráveis, tendo um elenco impecável, com profissionais da mais alta capacidade, uma estrutura com vários departamentos para atender as necessidades dos ouvintes e com grandes locutores, mas as mexidas, mudanças de gestões, a rádio passou a viver períodos de altos e baixos em sua trajetória, chegando a funcionar em uma sala de 4×4 na Ceasa, no bairro Cohafuma.
O momento mais crítico da rádio foi no governo de Roseana Sarney (1995-2002), que extinguiu a rádio Timbira, sendo publicado no Diário Oficial do Estado do Maranhão, ocorrida em 27 de outubro de 1995. O motivo, segundo fontes ligadas ao grupo Sarney, teria sido uma forma de valorizar o Grupo Mirante, de propriedade de sua família e derramar dinheiro de publicidade nas emissoras, colocando a Timbira na lata do lixo. Por ser uma concessão do Governo Federal, a rádio continuou levando sua voz para todo o Estado, mas com uma programação ruim, péssimo som e sem estrutura.
De 1995 a 2007, a rádio funcionou de forma precária. Na ocasião, a governadora Roseana Sarney, recém-eleita, alegou que os prejuízos decorrentes da administração eram maiores que as receitas. Como a rádio provinha de uma concessão federal, e todos os equipamentos estavam em boas condições, as transmissões continuaram, mantidas pelo empenho de voluntários e o veículo foi incorporado à Secretária de Comunicação do Estado, mesma pasta que assinaria contratos milionários com o grupo Mirante, da família Sarney.
Com a chegada de José Reinaldo Tavares ao governo em (2002-2006), que mais tarde romperia com a família Sarney, em maio de 2004, o sonho de reestrutura a emissa voltou a circular no Palácio dos Leões. A rádio chegou a transmitir por vários meses de 2004, em outra faixa, além de 1290 AM: na Onda Curta de 15210 SW (onda curta).
O transmissor, com potência de 10 KW, além de baixa potência em comparação às outras cinco rádios existentes na região, não tinha bom som, tendo transmissão restrita até 100 km de cobertura, o que dificultava o alcance da emissora no interior do estado, já que o Maranhão todo teria deixado de ouvir a programação da Rádio Timbira. A emissora e seus ouvintes sofriam calados.
Após a eleição de 2006 e a posse do então governador Jackson Lago, visto como vitória para José Reinaldo Tavares, por ter feito o sucessor, o atual governo se empenhou para recuperar a rádio. O governo de Jackson lago viu a necessidade de ter o veículo funcionando com toda a potência e elegeu uma nova diretoria para planejar e trabalhar a revitalização da emissora, mas o poder subiu à cabeça e nada aconteceu.
Mesmo o governador Jackson Lago pretendendo transformar a Rádio Timbira em um instrumento de comunicação forte e democrático, capaz de levar as ações do governo a todo o Maranhão, oferecendo espaço para que o povo possa participar, reivindicando e sugerindo melhorias, o sonho durou pouco mais de 2 anos e foi abortado com a cassação de Jackson Lago. A emissora que era dirigida pelo jornalista Gilberto Lima, teria voltado para as mãos de quem a destruiu, e a possilidade de revitalização foi novamente colocada na lata do lixo por Roseana Sarney. Antes da cassação de Jackson Lago, em 12 de abril de 2009 um raio teria caído na torre e tirado a rádio do ar por mais de um mês.
A volta de Roseana Sarney em 2009 não mudou nada na emissora, mesmo o diretor de radiodifusão sendo um dos mais competentes do Maranhão. Juraci Filho passou a comanda a emissora, mas não recebeu estrutura adequada. Tinha competência, boa vontade, ideias, mas nunca recebe condições para fazer uma rádio melhor que a recebida. terminou seu mando e a rádio contininuou do mesmo jeito ou até pior, já que as novas tecnologias existiam e a Timbira não as connhecia.
Com a chegada de Flávio Dino ao Palácio dos Leões em 2015, o governador promoveu uma renovação geral da emissora, visando retomar a qualidade e a credibilidade perdida nas gestões estaduais passadas, além de torná-la legitimamente o meio de comunicação oficial do povo maranhense e redemocratizar a comunicação do Estado, por meio da participação popular. Em evento realizado na Casa do Maranhão, em São Luís, o governador, o secretário de Comunicação, o bequimãoense Robson Paz, acompanhados do presidente da Assembleia Legislativa, Humberto Coutinho (In Memória), entre outros, apresentaram à imprensa os novos projetos para a Rádio Timbira, além da nova programação da emissora, lançada um dia depois, em 10 de fevereiro de 2015, com a estreia de novos programas e a contratação de novos locutores. Atualmente, a Rádio Timbira está vinculada à Secretaria de Estado da Comunicação Social e Assuntos Políticos (SECAP).
RENASCIMENTO DA TIMBIRA AM
Em fevereiro de 2017, já como secretário adjunto de Comunicação Social, Robson Paz, assumiu a direção da Rádio Timbira. O Bequimãoense tornou-se responsável pelo processo de reestruturação e modernização da emissora, que incluiu a nova programação, batizada de “Nova 1290”. A emissora também ampliou sua participação nas mídias digitais, com a criação do aplicativo para dispositivos móveis e também da plataforma “A Voz do Povo”, que permite a participação ao vivo dos ouvintes via telefone. Também houve investimento tecnológico, com a modernização dos estúdios, que passaram a funcionar na sede da SECAP, e também um novo parque de transmissão que foi retirado do Distrito Industrial no bairro Maracanã e colocado no Aterro do Bacanga, na Região Central da Capital Maranhense.
ERA CARLOS BRANDÃO
A expectativa para a rádio Timbira neste governo não é das melhores. O governador Carlos Brandão, por incrível que pareça, colocou na Secretaria de Comunicação do Estado, nada mais, nada menos, que o jornalista Sérgio Macedo, homem forte no governo Roseana sarney e que nunca teve interesse de revitalizar a Timbira, sendo o responsável por derramar dinheiro de publicidade nas emissoras do grupo Mirante.
Em março de 2023, a Rádio Timbira iniciou uma nova fase em preparação para a migração da faixa AM para o FM. Como parte dessa preparação, estreou uma nova grade de programação, que segundo a direção da emissora, seria voltada para todos os públicos com muita música, esporte, cultura, informação e entretenimento, mas está longe de ser uma programação homogênia e popular.
A ideia da direção, que conta com três grandes profissionais de comunicação maranhense: Maria Spíndola (direção geral), Robson Júnior (direção de programação) e Tiago Soares (direção de jornalismo), seria manter a qualidade do conteúdo que já era produzido, mas não mantiveram a base de comunicadores, mexeram muito no time de profissionais e estão deixando a emissora na rabeta da audiência, mesmo ampliando diversidade musical com o jornalismo ao longo da programação, que segundo os diretores seria em adaptação ao formato FM. Mas se realmente for esse formado a Timbira FM, estaria sendo projetada ao fracasso, haja vista que as rádios populares estão à frente de todas as emissoras com programação moderna contemporânea.
Mesmo assim, desejamos sorte aos novos diretores da Rádio Timbira, e gostariamos que o bolo em comemoração aos 82 anos de história da emissora, seja coberto de novas ideias, recheado de novas visões e que venha acompanhado de mais amor pela rádio que descobriu dezenas de comunicadores populares no Maranhão. Parabéns rádio timbira AM!
Por João Filho – jornalista, radialista e pesquisador sobre o rádio maranhense.