O vereador carioca e suplente de deputado David Miranda (Psol-RJ) mandou um recado ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) minutos após a divulgação da notícia de que assumirá ó mandato na Câmara, no lugar de Jean Wyllys (Psol-RJ). Pelo Twitter, David cobrou de Bolsonaro respeito ao colega e prometeu forte oposição. “Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília”, escreveu o vereador. Foi uma resposta a outra mensagem, de apenas duas palavras, publicada instantes antes por Bolsonaro: “Grande dia!”.
O comentário do presidente foi interpretado por parte dos seguidores nas redes sociais como uma provocação a Jean Wyllys, que desistiu de assumir o próximo mandato da Câmara e deixou o Brasil em razão de ameaças de morte. Os dois são inimigos declarados e já travaram diversos embates na Câmara que resultaram na apresentação de pedidos de cassação no Conselho de Ética, de parte a parte.
Um dos filhos do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) também publicou uma mensagem interpretada nas redes como provocação a Jean: “Vá com Deus e seja feliz”. Depois, ele sugeriu que o recado era para seu pai, que estava embarcando em Davos, na Suíça, com destino ao Brasil.
Em seguida, Carlos ironizou a interpretação feita por críticos de Bolsonaro de que ele havia tripudiado sobre Jean Wyllys. “O presidente está proibido de dizer “GRANDE DIA
Jair Bolsonaro voltou, na sequência, ao Twitter para chamar de “fake news” qualquer interpretação de que havia comemorado a decisão de Jean Wyllys de deixar o Brasil. “Fake News! Referi-me à missão concluída, reuniões produtivas com Chefes de Estado, voltando ao país que amo, Bolsa batendo novo recorde na casa dos 97.000 e confiança no nosso país sendo restabelecida, isso faz de hoje um grande dia!
Ameaças
Primeiro parlamentar gay a assumir a bandeira LGBT no Congresso, Jean Wyllys anunciou nesta quinta que vai abrir mão do novo mandato para o qual foi reeleito em outubro e deixar o Brasil. As duas decisões, segundo ele, foram motivadas por ameaças de morte e perseguições que tem sofrido.
Jean Wyllys desiste do mandato e deixará o país após ameaças de morte
“Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!
Ele ressaltou que, mesmo sob escolta, foi xingado e empurrado várias vezes publicamente. Segundo Jean, também pesou em sua decisão a informação de que familiares de um ex-PM acusado de liderar o Escritório do Crime, uma falange de milicianos, trabalharam no gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Espionagem
Casado com o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que revelou o esquema de espionagem dos Estados Unidos denunciado por Edward Snowden em 2013, David se elegeu vereador em 2016. “Preto, Favelado e Primeiro vereador LGBT do RJ, midialivrista e pela causa animal. Candidato a deputado federal pelo PSOL. Pai do João e Jonathan
Ele conta, em sua biografia na internet, que foi criado na comunidade do Jacarezinho, nunca conheceu seu pai e ficou órfão de mãe aos cinco anos. O casal tem dois filhos adotivos e mora em uma casa com 24 cachorros. Em 2013, David foi detido pela Polícia Metropolitana de Londres quando fazia escala em uma viagem de volta de Berlim, para o Brasil. Foi parado sob a suspeita de transportar documentos de inteligência. Embora a detenção por nove horas tenha sido considerada “justa e apropriada” pela Justiça britânica, foi fortemente atacada pela Anistía Internacional.
Por Congresso em Foco