Witzel na mão da ALERJ e Bolsonaro no colo do Centrão
Essa conta para eles se salvarem de impeachment não vai fechar tão cedo
Os ex-aliados Jair Bolsonaro (presidente da República) e Wilson Witzel (governador do Rio de Janeiro) estão em cargos diferentes, mas em situações iguais em se tratando de legislativos. A situação dos 2 é tão complicada que precisarão acatar acordos com gregos e troianos para se manterem no cargo. Os dois pregaram acabar com a bandidagem, mas para concluir seus mandatos vão ter que abrir os cofres para os chamados por eles na campanha de 2018 de corruptos.
Na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro o placar de 69 a zero pela abertura do processo de impeachment do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, evidencia o trabalho hercúleo que o ex-juiz terá para salvar o mandato. É o preço de não ter construído uma governabilidade sólida na Assembleia Legislativa e ter antecipado a disputa presidencial de 2022. Atender os pleitos de parlamentares, que para mudarem seus votos vão exigir cargos e emendas, significa abrir as portas e o caixa do estado, que anda pendurado no Plano de Recuperação Fiscal assinado com o governo federal.
Já em Brasília-DF, Bolsonaro tem visto seu mandato fugir pelos dedos e como solução para escapar da queda, teve que se aliar com a turma do Centrão, que a população já conhece como o grupo que destrói o Brasil para estar no poder. A aliança de Bolsonaro com o Centrão vai custar muito caro para os brasileiros, já que os “novos aliados” exigem cargos em ministérios fortes e estatais poderosas. Aquela promessa de acabar com a corrupção feita na campanha por Bolsonaro, já foi esquecida e agora o presidente da República é aliado fiel justamente daqueles que foram taxados de “velha política”.
Aliados do governador Witzel dizem que a conta não vai fechar. Mesmo que lance mão de recursos do governo, correndo o risco de levar o estado à falência, o cenário é, no mínimo, desafiador. Mesma situação que Bolsonaro passa em Brasília com deputados e senadores de partidos do famoso Centrão. Nessa situação, quanto mais Bolsonaro tentar satisfazer o ego do Centrão, mais seu cargo ficará por um triz. O certo que Bolsonaro e Witzel estão no mesmo oceano, mas em barcas furadas diferentes.
Deputados estaduais cariocas estão pautados pelas eleições municipais deste ano e começam fazer jogo duro para tentar buscar cargos. E não parecem, até aqui, dispostos a se posicionar a favor de Witzel, ao menos que as negociações sejam favoráveis aos parlamentares. Até mesmo a sua legenda, o PSC, com receio da repercussão eleitoral de um eventual impeachment, começa a se bandear para o lado do presidente Jair Bolsonaro, que mesmo estando na mesma situação de Witzel, no Rio deve dar apoio velado ao prefeito Marcelo Crivella, que também anda ruim das pernas e corre sério risco de perder a eleição 2020.
O governador afirmou que orientou os parlamentares do PSC a votarem a favor do processo. Mas o que os próprios deputados dizem é que não estavam dispostos a serem os únicos a ficarem contra. Mesmo Fernando Collor e Dilma Rousseff, alvejados pelo impeachment no plano federal, contaram com o apoio de aliados até o fim. Witzel e Bolsonaro vão ter que se aliar com inimigos para não caírem juntos como iniciaram.
A disposição de Bolsonaro em se manter adversário do governador elimina qualquer chance de boa vontade para negociar mudanças na recuperação fiscal do Rio de Janeiro, em que, por atraso no programa de privatização da Cedae, a União pode assumir a Companhia de Saneamento até o fim do ano. Sem capital político, à espera ainda do reflexo da decisão de flexibilizar o isolamento no auge da pandemia e com o caixa em baixa, Witzel, por ora, está nas mãos dos adversários, assim como o presidente Jair Bolsonaro que usou o mesmo discurso de campanha em 2018.
O certo mesmo é que para se manter o poder, tanto Witzel, quanto Bolsonaro poderão doar a alma aos inimigos, simplesmente em nome da velha política brasileira, que o povo já está acostumado vê todos os dias.
Com Informações de O GLOBO