JUSTÍÇA

Bolsonaro segue em prisão domiciliar e mantém articulações políticas no sofá de casa

Levantamento do Metrópoles mostra que, mesmo sob vigilância e restrições impostas pelo STF, o ex-presidente mantém rotina de encontros políticos e religiosos na residência em Brasília

Desde o dia 4 de agosto, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente permanece sob vigilância permanente da Polícia Federal. A casa onde mora com a esposa, Michelle Bolsonaro, e a filha caçula, no condomínio Solar de Brasília, é monitorada 24 horas por dia, com acesso restrito e visitas controladas por autorização judicial do ministro Alexandre de Moraes.

Levantamento realizado pelo Portal Metrópoles revelou que, nos primeiros 100 dias da medida, Bolsonaro recebeu 69 pessoas em 62 ocasiões — entre aliados, líderes religiosos e familiares. Apesar das restrições de comunicação e de contato com diplomatas e redes sociais, o fluxo de visitantes nunca cessou, e a residência se tornou um centro de articulação política e religiosa.

Medidas impostas e descumprimento

A decisão de Moraes determinou que Bolsonaro utilizasse tornozeleira eletrônica, permanecesse em casa entre 19h e 6h e se abstivesse de qualquer contato com embaixadores, diplomatas ou redes sociais. O ministro também proibiu transmissões e aparições públicas, diretas ou indiretas, em plataformas digitais.

A prisão domiciliar foi decretada após o ex-presidente descumprir essas medidas. Em 3 de agosto, durante manifestação na Avenida Paulista, Bolsonaro participou por videochamada de um ato político conduzido pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e enviou mensagem a manifestantes no Rio de Janeiro. No dia seguinte, com base nessas evidências, Moraes determinou o cumprimento da prisão domiciliar.

Rotina entre cultos e encontros políticos

Durante o confinamento, o ex-presidente alterna reuniões políticas com encontros de cunho religioso. Segundo a reportagem, as reuniões mais frequentes ocorrem às quartas-feiras, quando o casal Bolsonaro recebe integrantes de um grupo de oração liderado por Michelle. O pastor Márcio Roberto Trapiá, Dirce Carvalho e o deputado distrital Thiago Manzoni estão entre os visitantes mais assíduos.

Eventos familiares também marcaram o período. No Dia dos Pais, em 10 de agosto, Bolsonaro reuniu filhos, sogros e amigos próximos. Em outubro, a residência recebeu nove convidados para a festa de 15 anos de Laura, filha do ex-presidente.

Entre os frequentadores da casa estão ainda a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), o ex-piloto Nelson Piquet e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jorge Oliveira, aliado histórico de Bolsonaro.

Condicionamento e reações no condomínio

A movimentação constante no Solar de Brasília transformou a rotina dos moradores. Carreatas, buzinaços e manifestações diárias de apoiadores passaram a ocorrer nas imediações. Em setembro, militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) protestaram na porta do condomínio, erguendo um boneco de Bolsonaro vestido de presidiário. O ato terminou sem incidentes após intervenção da Polícia Militar do Distrito Federal.

Articulações para 2026

Mesmo proibido de se comunicar publicamente, Bolsonaro mantém influência direta sobre as decisões do Partido Liberal (PL) e da direita conservadora. Segundo o Metrópoles, 33 dos visitantes da casa são ligados à política, sendo 26 parlamentares. Entre os frequentadores estão o senador Rogério Marinho (PL-RN), o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

As primeiras conversas abordaram o Projeto de Lei da Anistia, que pretendia perdoar envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Com o arrefecimento da proposta, a pauta mudou para as eleições de 2026. Apesar de inelegível, Bolsonaro atua como articulador central, orientando estratégias partidárias e discutindo candidaturas regionais e nacionais.

Em encontros recentes, líderes do PL e do Centrão discutiram nomes como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Júnior (PSD-PR) como possíveis candidatos da oposição à Presidência.

Disputas familiares e influência política

A reportagem também aponta atritos internos na família Bolsonaro. Os filhos Flávio e Eduardo disputam espaço como herdeiros políticos do pai. Eduardo, que vive nos Estados Unidos, é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de atuar em articulações internacionais para obstruir investigações.

Enquanto isso, Flávio tenta mediar conflitos entre os irmãos e manter o grupo político unido. A orientação de Bolsonaro, segundo aliados, é preservar alianças com partidos da base conservadora e evitar rupturas internas.

À espera do desfecho judicial

Em 7 de novembro, a Primeira Turma do STF rejeitou recurso de Bolsonaro contra a condenação de 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado. O ex-presidente aguarda o julgamento de novos recursos antes que a pena seja executada.

Caso seja confirmada, a execução da sentença poderá ocorrer no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Entretanto, devido ao estado de saúde fragilizado, há possibilidade de manutenção do regime domiciliar por motivos humanitários.

Até que haja uma definição, Jair Bolsonaro segue confinado em sua residência no Solar de Brasília — onde, entre cultos, visitas e reuniões políticas, continua exercendo influência sobre o futuro da direita brasileira.

Veja a reportagem completa no Portal Metrópoles

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