Filho de ex-mulher de Bolsonaro é condenado por violência doméstica
Ivan Valle foi proibido por pelo menos três vezes de se aproximar da ex-companheira, que denunciou chute e tapa no rosto
O funcionário público Ivan Valle, filho de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, foi condenado por violência doméstica pela Justiça do Rio de Janeiro em abril. Antes da condenação, Ivan, enteado de Bolsonaro quando o presidente estava casado com sua mãe, recebeu notificação judicial, por pelo menos três vezes, para não se aproximar da ex-companheira e vítima, Juliana Alencar. O caso segue tramitando e, desde a semana passada, está no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).
Ivan Valle, 32, foi condenado a 3 meses e 15 dias de detenção, em regime aberto, além do pagamento de dois salários mínimos à vítima por danos morais. Ivan, que até o início do ano tinha um cargo de confiança na Secretaria de Esportes do governo do Rio de Janeiro, é acusado de agredir a ex-companheira em 2018. A condenação foi assinada em 20 de abril de 2021 pela juíza Adriana Ramos de Mello, do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Rio de Janeiro.
Segundo a sentença, Ivan Valle agrediu a ex-companheira em 19 de julho de 2018, no Rio de Janeiro. A vítima relatou à polícia e à Justiça que Ivan lhe deu um chute na perna e um tapa no rosto, além de apertar seu pescoço e empurrá-la. A agressão ocorreu na frente da filha do casal, à época com um ano de idade.
No depoimento ao tribunal, Juliana Alencar declarou que Ivan foi até sua casa com uma decisão judicial. Esse documento atestaria que ele poderia ficar com a filha aos fins de semana. Os dois começaram a discutir e, segundo o relato, Ivan foi rude e pegou a criança no colo.
“Ele foi no meu pescoço”, disse Juliana, em depoimento. E continuou: “Eu pedia pra ele me dar ela, porque ela estava gritando (…) Eu estava na frente do elevador ainda. Quando ele soltou o meu pescoço e eu fui tentar pegá-la, ele veio com a cabeça na minha testa e me empurrou contra o elevador”.
Em seguida, Juliana conta ter tentado chegar à escada do prédio, para evitar que Ivan levasse a filha. Foi agredida mais uma vez. “Ele me deu um chute na perna esquerda, no tornozelo.” Juliana informou que as pancadas lhe causaram edema e lesões nos tendões da perna, ainda de acordo com o depoimento.
O exame de corpo de delito registrou que as lesões foram sofridas por “ação contundente”. O boletim médico endossou a versão.
No dia seguinte, 20 de julho de 2018, Juliana foi à polícia e fez um registro de ocorrência sobre a agressão. Horas depois, conseguiu medida protetiva. Com base na Lei Maria da Penha, a Justiça proibiu que Ivan se aproximasse a menos de 250 metros de Juliana, por três meses. Nesse período, o agressor também ficou vetado de manter qualquer comunicação com a vítima.
Essa medida protetiva de 90 dias foi prorrogada por pelo menos mais duas vezes, a pedido da defesa de Juliana. A terceira decisão, concedida em janeiro de 2019, baseou-se em um novo boletim de ocorrência de Juliana contra Ivan em dezembro de 2018. Desta vez, a vítima afirmou à polícia que o ex-companheiro havia descumprido a decisão judicial porque tinha ido até sua casa e buscado contato por ligações telefônicas.
Em março de 2019, o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou Ivan Valle por lesão corporal em violência doméstica. A denúncia foi aceita no mesmo mês e, assim, Ivan Valle tornou-se réu.
Ivan Valle negou as acusações à Justiça. Segundo sua versão, no dia do episódio, em julho de 2018, Juliana fez um “escândalo” sem razão depois que ele mostrou um documento da Defensoria Pública autorizando sua visita à criança. “Peguei a minha filha no colo, e aí então aconteceu de ela se colocar na minha frente e fazer um escândalo, sem ter nada. (…) Ela tentando me segurar. Eu tentando tirar o braço dela. (…) Eu tentando descer o tempo todo, e ela fazendo um escândalo, gritando.” Não há relato algum de agressão no depoimento de Ivan.
Para se defender no processo, Ivan Valle indicou quatro testemunhas. Uma foi sua mãe, Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, com quem o presidente teve o filho Jair Renan, de 23 anos. Ana Cristina afirmou no depoimento que não presenciou o episódio, mas considerava a relação do filho com a ex-companheira normal. “O que a gente via era uma relação normal entre homem e mulher, algumas horas tem o afeto. Uma relação supernormal”, disse. Perguntada se já havia notado algum comportamento agressivo entre os dois, respondeu: “Agressivo, ele não é”.
Na decisão, a juíza considerou que a defesa de Ivan não produziu nenhuma prova que pudesse afastar a acusação. “Conclui-se que os fatos narrados na denúncia restaram integralmente comprovados”, escreveu a magistrada Adriana Ramos de Mello.
Procurado, o advogado de Ivan Valle afirmou que ele sofreu uma “grave injustiça”.
“A defesa possui plena confiança no TJRJ, que certamente reconhecerá a inocência de Ivan, corrigindo a grave injustiça cometida”, assinalou o advogado.
A defesa de Juliana Alencar afirmou que sua cliente não pode se pronunciar no momento por causa do processo, mas “tem muito a dizer”.