COLUNA JF

Nordeste de Contrastes.

Artigo escrito pelo bequimãoense, professor José Lemos

Que o Nordeste não é uma imensa área homogênea, já sabemos. Uma região enorme que tem diferentes paisagens e dotação de recursos naturais, diversidade cultural, de gente diferente na aparência. Nordeste que não fala um único português. Tem expressões e palavras que são específicas de rincões daqui.

Temos o Nordeste das águas abundantes, tanto em termos de pluviosidade como em água de superfície e subterrânea. Temos o nosso Pantanal na Baixada Ocidental Maranhense. Mas ha o Nordeste de pouca chuva, e de chuvas mal distribuídas. Das chuvas intermitentes e irregulares no espaço regional e no espaço temporal.
Há o Nordeste com rios ainda caudalosos e perenes como os Rios Itapecuru, Tocantins, Munin e Mearim no Maranhão. Tem o Rio Parnaíba que separa o Maranhão do Piauí, o Rio Poti no Piauí. Tem o sofrido Rio São Francisco, com quase todo o seu percurso assoreado. Mas há o Rio Pajeú, afluente do São Francisco, onde eu tive a oportunidade de tomar banho num período de enchente e de jogar bola no seu leito numa época em que estava totalmente seco, em dois momentos em que estava gozando férias como Compenetrado Acadêmico de Agronomia no município de Afogados da Ingazeira, Pernambuco. Ha o cansado Rio Jaguaribe, aqui no Ceará…

Na parte mais ao norte do Nordeste, no Maranhão e no Piauí, as águas de subsolo são abundantes. É possível obter facilmente água cavando poços tubulares ou os dos tipos cacimbas. Desses poços sempre emergem águas de qualidade que, com pequenos cuidados, são potáveis e servem para os animais. Mas tem o Nordeste em que as águas de subsolo se “escondem” em camadas profundas, no meio a rochas enormes. Para alcançar esses “fios” de água necessita de equipamentos sofisticados para perfurar poços profundos. A água que quando alcançada, em boa parte das vezes, é salobra.

Tem o Nordeste do calor elevado ao longo de todo o ano, em que as temperaturas máximas, não raro, se aproximam dos 40ºC. Mas há o Nordeste de temperaturas amenas, nas áreas serranas. Em municípios cearenses como Guaramiranga, Pacoti, Tianguá, Viçosa do Ceará, ou em Pernambucanos como Garanhuns, ou Paraibanos como Campina Grande e os municípios que estão na Serra da Borborema, as temperaturas noturnas chegam abaixo de 10ºC, entre janeiro e maio.

Nordeste da vegetação predominantemente herbácea, arbustiva, com poucas espécies arbóreas que predomina na imensidão da Caatinga. Um bioma que apenas acontece no nosso semiárido. Esse bioma, por si mesmo já é um grande contraste. Na época das secas exibe uma paisagem acinzentada (por isso o nome caatinga), sem vida. Quando caem as primeiras chuvas, de repente tudo fica verde, lindo, com cheiro de relva o que renova as esperanças da gente simples que sobrevive sob aquele ambiente.

Mas há no Nordeste espaços em que predominam árvores frondosas. Domínio de Palmeiras, sobretudo as do babaçu, que fornecem gratuitamente uma paisagem belíssima, mas, como recompensa por essa generosidade da natureza, os seres humanos que moram nas áreas dos cocais (como são chamadas), por diferentes motivações, as destroem. E a palmeira de Babaçu tem “mil utilidades”. Basta conversar com um nativo maranhense ou piauiense para descobrir a diversidade de retiradas que são feitas da palmeira e do fruto de babaçu.

Nordeste das plantas xerófilas como cactos, dentre os quais o mandacaru e a palma forrageira se destacam, Mas também de espécies arbóreas como o Juazeiro e a algaroba que é exótica mas se adaptou bem nas áreas de maiores dificuldades hídricas do Nordeste, como aquelas que estão no ecossistema do semiárido.
Nordeste da diversidade de pássaros. E tem para todos os gostos e sensibilidades de audição e de visão. Das revoadas dos guarás vermelhos da Baixada Maranhense, das garças, e dos avoantes nos Inhamuns do Ceará. Da pomba fogo-pagou, dos bem-te-vis dos beija flores. Das abelhas Tiuba e Uruçu, que tendo os ferrões atrofiados, podem ser criadas nas imediações das casas e produzirem méis deliciosos, nutritivos e medicinais.

Nordeste que passa três, quatro, cinco, seis anos sem chover, provocando desesperança para milhares de famílias sertanejas que fazem orações fervorosas a partir do mês de dezembro pedindo que tenha um “bom inverno” (boa quadra chuvosa”), cujo ápice de orações acontece na semana que antecede, o dia 19 de março, dedicado a reverenciar o nosso Padroeiro regional. O Poderoso São José.

Nordeste em que as pessoas que pediram para chover quando estavam no sertão, porque sofriam com as secas. Migraram para as grandes cidades. Em ali chegando moram em áreas de riscos, que são as que lhes sobram. Nessas áreas, em épocas de chuvas abundantes como neste ano de 2019, as ruas e casas ficam inundadas e vêm destruído o pouco que conseguiram amealhar e construir. Elas, que quando moravam no sertão, rezavam pedindo para chover, agora o fazem pedindo para que não chova.

Nordeste que produziu talentos como Ariano Suassuna, Dominguinhos, Gonçalves Dias, Gonzagão, João do Vale, Jorge Amado, Patativa do Assaré, Rachel de Queiroz,… Nordeste das festas de bumba meu boi, das quadrilhas juninas, do forró de pé de serra, da sanfona, zabumba, triangulo… Nordeste do milho assado, pamonha, canjica, baião de dois, mungunzá, mingau de milho, rapadura… Nordeste do Cordel, dos poetas repentistas, dos cantadores… Nordeste de mulheres sensíveis, belas, amantes incondicionais quando gostam do seu “caba”, mães, filhas, irmãs dedicadas… Nordeste de homens trabalhadores, de mãos calejadas, de calcanhares rachados…

Nordeste da esperança e da desesperança. Nordeste que serve de massa de manobras para espertalhões travestidos de políticos. Nordeste, simplesmente!
Orgulha ter o umbigo enterrado deste lado privilegiado deste Belo Planeta…

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