Ricardo Boechat: Melhor jornalista brasileiro da atualidade
Boechat era um profissional completo que respeitava as fontes e o público da notícia
Fomos apanhados de surpresa no início da tarde desta segunda-feira. Habituados a noticiar eventos tristes, a informação da morte de Ricardo Boechat emocionou não só os profissionais do ramo da mídia, mas milhares de brasileiros que acompanham o seu trabalho.
A morte é um evento esperado, é a única certeza que temos. Mas sempre quando ela chega, não entendemos como pode levar alguém que tinha um papel relevante em meio a essa loucura desses tempos confusos.
Muita coisa já se falou sobre Boechat. Sou mais um a escrever sobre esse personagem, o melhor jornalista que havia na atualidade. Sim, o melhor jornalista. Ele conhecia seu trabalho, transitava como ninguém pelas fontes, respeitava os jornalistas mais novos e, especialmente, os brasileiros.
Conheci Boechat há muito tempo, numa palestra onde fui mediador. Fiz uma pergunta sobre a sua demissão no O Globo, onde publicou uma nota que beneficiou Nelson Tanure. O empresário usou sua amizade para “plantar” uma nota que envolvia o grupo de telecomunicações canadense TIW, a Telemig Celular e a Tele Norte Celular, avaliadas em U$S 2 bilhões.
Bem, Boechat respondeu para a plateia de forma direta, objetiva e admitiu seu erro em publicar a informação que, neste momento, não cabe maiores explicações. Boechat encarou seu erro publicamente. Tinha essa característica: sempre que errava, admitia e corrigia.
Cheguei a passar algumas notas sobre os acontecimentos da República. Ele insistia em detalhes para ter certeza do que publicava. Boechat era assim, um cobrador insistente, mas gentil e amoroso no trato com os colegas e com as fontes. Era implacável com vagabundos, como ele mesmo dizia.
Acho que ficamos mais pobres sem Boechat. Seus comentários diários na Rádio Band News era uma lufada de equilíbrio em meio às distorções comuns dos fatos, potencializados com as redes sociais e as notícias falsas.
Numa época em que há quase um mantra contra o Jornalismo, a morte de Boechat tem que servir como uma âncora, um norte, porque sem o contraditório não há democracia.
- Artigo publicado pelo jornalista Gilmar Corrêa, editor do site Misto Brasília