Sem polícia, população mata jovem no Maranhão
A cidade de Araioses tem 40 mil habitantes e apenas 2 policiais
Moradores da cidade de Araioses, a 409 km de São Luís, se revoltaram e acabaram linchando até a morte o homem identificado como Wallison Silva Araújo, de 19 anos, na manhã desta terça-feira (26), no interlan maranhense.
O crime ocorreu na presença de apenas dois policiais militares que não tiveram como conter a fúria de dezenas de pessoas. Segundo a Polícia Civil, no domingo (24) ele matou a golpes de faca um jovem identificado como Madson Araújo da Cruz, que não tinha passagens pela polícia. Sem contingente policial, a população fez justiça com as próprias mãos.
Segundo a Polícia Civil, a população descobriu que Wallison estava em uma residência da cidade e cercou a casa. A Polícia Militar foi acionada e chegou com dois policiais para atender a ocorrência. Sem força para enfrentar a fúria da população, os policiais apenas viram o linchamento.
De acordo com o delegado da cidade de Araioses, Raphael Reis, quando os policiais chegaram Wallison estava em cima de um muro para evitar a população. Eles conseguiram convencê-lo a descer e se entregar, mas no momento que iriam prendê-lo a população o agarrou e o atirou para fora da casa. Ele afirma que os policiais nada puderam fazer.
Os policiais estavam lá e tentaram prender, mas a população partiu para cima dele. Dois policiais contra 80…100 populares poderiam fazer o que?”, questionou o delegado. Esse é o reflexo dos 217 municípios maranhenses, em que não tem policiamento, viaturas sucateadas e muita das vezes até sem combustível.
Um vídeo mostra o momento em que Wallison desce do muro da casa e os policiais tentam acalmar e conter a população. Um homem surge com um facão e Wallison tenta se esconder entre os militares.
Em outro vídeo é possível ver rapidamente o momento em que ele é cercado pela população fora da residência. No local ele é chutado e esfaqueado por várias pessoas diante da viatura da PM e dos policiais. O delegado da cidade culpa a falta de efetivo policial pela falta de ação no caso, que não tinha sido o primeiro na cidade.
“Existem várias ocorrências aqui na cidade. É quase uma tradição esse tipo de justiçamento por aqui. Só comigo aqui já aconteceram três vezes e eu, pessoalmente, já tive que ficar na porta da delegacia, literalmente, para tentar evitar. Já tive que pedir reforço para colegas do Piauí porque não temos efetivo policial”, declarou.
“Na data de hoje dois policiais foram colocados em risco. São dois policiais militares e só eu, um investigador e um escrivão aqui por dia para mais de 50 mil habitantes. Então o risco é comum. (…). A polícia estava no local, mas não conseguiu conter a população sob pena de atirar em um cidadão. Cidadão entre aspas porque quem faz isso é criminoso da mesma forma”, afirmou o delegado.
O batalhão de Polícia Militar mais próximo de Araioses fica em Chapadinha, a 260 quilômetros da cidade. São três horas de viagem até que algum reforço consiga chegar. No caso da Polícia Civil a regional com maior efetivo fica na cidade de Barreirinhas, a duas horas e meia da cidade.
Sobre as pessoas que aparecem em vídeos agredindo e esfaqueando Wallison, o delegado disse que vai tentar a identificação e a posterior prisão deles, mas no momento até o flagrante não pode ser feito.
“A gente podia, inclusive, prender essas pessoas em flagrante. Mas não temos efetivo. Se nós aqui fôssemos prender alguém desses populares, imagina o que iria acontecer?”, declarou.
Além da morte registrada no último domingo, a polícia afirma que Wallison tem no histórico o latrocínio de uma idosa de 89 anos na cidade, quando ele tinha 16 anos e retornava de uma internação em um centro de juventude de São Luís apenas seis meses após ter saído.
Fotos: G1/MA