POLÍCIA

SEMUSC afasta guarda municipal que matou jovem em surto psicótico

SAMU, Clínica, Semusc, SSP-MA tiraram o deles da reta, mesmo a família perdendo um filho

O guarda municipal de São Luís, suspeito de ter matado Killiam Patrick Nascimento Costa, de 29 anos, durante um surto psicótico, nessa segunda-feira (21), foi afastado das funções SEMUSC. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Segurança com Cidadania.

Killiam Patrick, que era paciente psiquiátrico, foi baleado pelo guarda municipal, de identidade não divulgada, na tarde de segunda-feira (21), na casa onde morava com a mãe, na rua Alcides Pereira, no bairro Caratatiua, na região da Alemanha, em São Luís. De acordo com a Semusc, a conduta da Guarda Municipal durante a abordagem ao paciente está sendo investigada. 

“Nós vamos apurar agora se a conduta foi correta ou não, então é isso que nós estamos apurando. Mas foram dar apoio a uma clínica psiquiátrica, que procurou aqui a Secretaria, a Guarda Municipal, e eles foram lá para dar atendimento e proteção aos médicos que estavam presentes, que era um psiquiatra e um psicólogo”, informou o secretário da Semusc, Marcos Afonso. 

Protesto por justiça 

Na noite dessa terça-feira (22), a família da vítima e amigos fizeram um protesto na porta da Semusc, no bairro da Alemanha, em São Luís, para pedir respostas pela morte de Killiam. Durante o protesto, a família cobrou esclarecimentos e a responsabilização dos culpados pela morte da vítima. 

“Nós viemos direto do cemitério para cá. Nós queremos justiça pela vida do meu irmão. É uma manifestação pacífica, nós não queremos nada demais, só justiça”, afirmou Patrícia Nascimento Costa, irmã da vítima. 

De acordo com a advogada da família de Killiam, órgãos como Defensoria Pública do Maranhão e o Ministério Público já foram acionados para acompanhar o caso. 

“Nós estamos cuidando para que todas as providências sejam tomadas, sim, inclusive por parte do Ministério Público. Nós queremos a atuação firme deles, porque somente aí saberemos como será feita essa investigação acerca do caso”, destacou a advogada Karine Cruz Marinho. 

Karina Costa, irmã de Killiam, afirmou que, um dia antes da morte da vítima, a família chamou o Samu para controlar o homem, que estava em surto, porém nenhuma equipe atendeu ao chamado. 

“Minha mãe ligou um dia antes para o Samu e para o bombeiro, a gente tem o número de protocolo que foi ligado, não vieram, nem a Samu nem o bombeiro veio. Aí minha mãe saiu de casa e disse que ia ligar pro resgate da própria clínica. Ligou pra clínica, a clínica foi, acho que ela chamou a Guarda Municipal, que eu não entendi porque que a Guarda Municipal entrou nisso, porque sempre é Samu e bombeiro. Veio ele e a Guarda Municipal, tinha uns lá que estavam até a paisana”, afirmou Karina Costa, irmã de Killiam. 

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que não há qualquer registro de chamada para o atendimento ao paciente, na central do Samu, no dia informado pela família de Killiam. 

A Semusc afirmou que, chegando ao local, os guardas municipais, com os profissionais da clínica, iniciaram um diálogo com o homem e, durante a negociação, o paciente psiquiátrico, portando uma faca, partiu para cima da guarnição, que desferiu disparos de borracha para contê-lo. 

Mesmo com os tiros de borracha, o homem continuou tentando investir contra a vida dos guardas municipais que, diante da iminente agressão, precisaram utilizar arma de fogo. 

Ainda de acordo com a Semusc, após Killiam Patrick ser baleado, os guardas municipais acionaram imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou a morte. 

De acordo com a família de Killiam Patrick, ele sofria de esquizofrenia desde os 14 anos de idade e, por isso, ficou internado por oito meses na clínica particular Estância Bela Vista, em São José de Ribamar, na Grande São Luís. O paciente saiu da clínica no domingo da semana passada, pois a família não tinha mais condições de pagar pela internação. Porém, quando o homem entrou em crise, os familiares solicitaram, novamente, o atendimento da unidade de saúde. Segundo a família do paciente, foi a clínica quem acionou a Guarda Municipal para ajudar a conter Killiam. 

Família desmente versão da Guarda Municipal 

A família de Killiam desmentiu a versão da Guarda Municipal, afirmando que a vítima segurava uma tesoura de cortar unha em uma das mãos, no momento em que foi baleada, e não uma faca, como afirmou a Semusc. “Killiam veio lá de dentro com uma pedra e uma tesoura pequena, que ele tava, uma tesoura bem pequenininha, que quase não dava pra ver na mão dele, mas ele tava com essa tesoura desde domingo. E aí, quando eu já vi, já foi o guarda municipal, que tava fardado, já carregando a escopeta que tava com a munição de borracha e aí… Quando eu já vi o terceiro tiro, o terceiro tiro já foi aqui no meio (na região do tórax), e quando eu vi já era sangue”, relatou Adriana Milena Nascimento, tia da vítima. 

O que diz a Semusc 

Nessa terça-feira (22), a Semusc emitiu outra nota reforçando que os guardas municipais foram ameaçados pelo homem com objeto perfurante, sendo aplicado primeiramente o uso de arma não letal. Mas, diante da continuidade das ameaças e iminente risco à vida dos guardas na operação e demais pessoas no local, foi necessário o uso de força maior para contenção do homem. 

A Semusc disse, ainda, que os guardas municipais recebem o porte de arma de fogo após treinamento no curso de armamento e tiro e com autorização da polícia federal. Além disso, os guardas passam, anualmente, por uma avaliação de armamento e tiro. 

O que diz a Clínica Estância Bela Vista 

Em nota, a Clínica Estância Bela Vista diz que seguiu todos os protocolos técnicos disponíveis e que nenhuma conduta ocorreu fora dos mais elevados padrões de qualidade e assistência. 

Leia a nota na íntegra 

A Clínica Estância Bela Vista vem por meio de nota, esclarecer o ocorrido na manhã do dia 21 de outubro, no Bairro Caratatiua – São Luís – MA, envolvendo o Sr. Kilian Patric Nascimento Costa, de 29 anos. 

Após solicitação de apoio feita por familiares, a equipe técnica da Estância Bela Vista se dirigiu ao local do fato, com o objetivo de oferecer o suporte necessário ao Sr. Kilian, diante do complexo quadro clínico apresentado e da gravidade do comportamento observado no momento. 

Nesse contexto, foi requerida a presença imediata do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Guarda Municipal, com o único intuito de garantir a segurança de todos os envolvidos, já que o paciente se encontrava em surto e portava objetos que representavam risco iminente para si e para terceiros. 

Infelizmente, o desfecho culminou com a morte do Sr. Kilian, após a intervenção da Guarda Municipal, em circunstâncias que ainda estão em processo de apuração pela Polícia Civil. 

A Clínica Estância Bela Vista lamenta profundamente o ocorrido e manifesta seus sentimentos à família enlutada, reafirmando nosso compromisso em prestar todo o apoio necessário aos familiares neste momento tão difícil. 

Por fim, registramos que a Clínica Estância Bela Vista seguiu todos os protocolos técnicos disponíveis, não tendo qualquer conduta fora dos mais elevados padrões de qualidade e assistência. 

O que diz o governo do Maranhão 

Por meio de nota, a governo do estado informou que o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) foi acionado por um enfermeiro da clínica Estância Bela Vista, relatando o quadro de um paciente em surto psicótico e muito agressivo. 

O governo afirmou que, em situações envolvendo pacientes psiquiátricos, o protocolo institucional vigente estabelece que o atendimento do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar a esses casos se dará somente após o acionamento feito pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, a quem compete o atendimento inicial. E que essa regra garante uma abordagem segura, uma vez que o Samu possui profissionais treinados para situações médicas e psiquiátricas. 

Ainda segundo o governo, a atuação dos bombeiros e da PM se dará como apoio, após a solicitação direta do Samu, que avalia e coordena o atendimento de acordo com o quadro clínico do paciente. 

Por G1MA 

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