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A fome e as cestas básicas na troca por votos no Maranhão

Opinião de Paulo Romão (Sociólogo - Pré-candidato ao Senado Federal pelo PT/MA)

Dezembro chegou. O espírito natalino floresce nos corações humanos sob os ensinamentos do Cristo Jesus e muita gente boa tem promovido ações solidárias de distribuição de cestas básicas, tão fundamentais para a sobrevivência das pessoas pobres nestes tristes tempos de pandemia de coronavírus , em que o desemprego , a fome e a desesperança são presenças incômodas .

Mas nem tudo é ato de solidariedade em si e a sociedade precisa estar atenta e forte para combater o uso do dinheiro público para comprar mandatos tendo a fome como arma política de perpetuação do padrão fisiológico de fazer política que asfixia todo mundo.

Há muito cálculo político para as eleições de 2022 e usando a fome das pessoas como palanque para a disputa do governo do Maranhão, do Senado Federal e vagas na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal .

Muitos agentes públicos tem adquirido toneladas de cestas básicas e com dinheiro público para promover conteúdo para as redes sociais de suas pré-candidaturas .

Preliminarmente, não sou contra a distribuição de cestas básicas em nenhuma hipótese .

Eu faço doações de cestas básicas também . As pessoas que me cercam também passam fome e gente precisa ajudar sempre a superar o estado de vulnerabilidade social em que o povo brasileiro está submetido nesta quadra histórica .

Eu só não consigo fotografar a felicidade de quem tem sua fome matada por nosso respeito à vida e por nossa compreensão histórica da necessidade de termos condições mais dignas de sobrevivência neste Maranhão de meu Deus .

Eu não consigo respeitar que a única motivação de tanta ‘bondade ‘ com dinheiro público para matar a fome das pessoas seja manter o apoio eleitoral delas , montar ‘base política ‘ para garantir um cargo público.

O rosto de felicidade de quem tem sua fome remediada por alguns dias ao receber uma cesta básica ou mesmo 1 kg de peixe , só não consegue ser maior que a cara de satisfação dos políticos tradicionais ao entregar as benesses pretensamente solidárias e garantir boas fotos para suas redes sociais e reforçar o discurso de ‘preocupação ‘com a fome das pessoas e de olhos firmes para as eleições de 2022.

Neste ano tão difícil para a vida, os efeitos da pandemia ampliaram as desigualdades sociais clássicas , o desemprego corre solto e não encontra planejamento estatal para controlá-lo .

A fome é um indesejável parente distante que voltou para os lares maranhenses e não tem data para ir embora .

Até aqui , não se viu nenhuma iniciativa pública em quaisquer dos níveis federativos para garantir inclusão e autonomia produtiva das pessoas que já estavam desempregadas antes da pandemia ou mesmo para as que perderam seus empregos com o fechamento abrupto das atividades comerciais.

Mais uma vez , diversos setores da sociedade civil mostram força ao nos lembrar da necessidade de termos uma política nacional de segurança alimentar para os mais necessitados e garantir um Natal sem Fome.

Inúmeras entidades dos movimentos sociais tem feito um enorme esforço de arrecadação de alimentos e as igrejas tem desempenhado um papel vital fundamental no enfrentamento à fome.

As pessoas organizam bazar, ‘ rifas de PIX ‘ , sorteios e bingos solidários para arrecadar dinheiro e garantir a sobrevivência .

Mas os agentes políticos tradicionais só atuam no limites dos seus interesses eleitorais para garantir a rede clientelista de favores pessoais na busca pelo voto em vez de atuar para gerar trabalho, emprego e renda .

A fome maltrata as famílias pobres do Maranhão. O desmonte da rede de proteção social aos mais necessitados é um grave crime contra a economia popular .

As pessoas precisam se manter em pé para seguir lutando e eles que comem bem e todos os dias, precisam lembrar que o povo não quer estar na fila do osso, tão pouco receber somente cestas básicas por que a ‘ precisão da fome‘ é maior e eles políticos precisam do voto.

O criminoso fim do Bolsa Família é também o desmonte da rede de comércio local que sustenta a economia dos municípios brasileiros .

A sociedade perde um importante ciclo de desenvolvimento econômico que gera e movimenta a renda em todo o Brasil, sobretudo nas cidades que dependem exclusivamente do Fundo de Participação dos Municípios.

O reflexo imediato local e igualmente perverso do fim desta premiada política de transferência de renda é também o desmonte da rede varejista de pequenos comércios que vendem ‘fiado ‘ para as pessoas aguardando o pagamento do bolsa família.

A fome das pessoas precisa preocupar verdadeiramente a sociedade.

E o cálculo não pode ser político.

Por Paulo Romão 

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