Carlos Bolsonaro é a pulga que quer ser mais que o cachorro
Em 500 tuítes publicados, o que pensa o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro?
Filho mais próximo do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro deflagrou a primeira crise no coração do Palácio do Planalto ao usar o Twitter para atacar Gustavo Bebianno, ministro da Secretaria-Geral da Presidência. O comportamento, porém, não é exceção. O “pitbull” da família usa a rede social como uma metralhadora giratória.E não é repreendido pelo presidente por isso.
O GLOBO analisou 500 tuítes feitos por Carlos entre 15 de dezembro e 15 de fevereiro e constatou que 72,2% das postagens feitas pelo parlamentar são ataques. O alvo preferencial é a imprensa, mas também sobram bordoadas para a esquerda e até mesmo para aliados, como Bebianno.
Das 500 postagens — que incluem também publicações de outras pessoas compartilhadas por ele — 211 (ou 42,4%) criticam a cobertura da imprensa sobre o governo Bolsonaro. Ataques à esquerda (19,8%), a aliados (5,2%) e outros (4,8%) completam a lista.
Embora os ataques predominem, sobra espaço na rede social para que Carlos divulgue conteúdo institucional do governo ou elogie aliados. Os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Damares Alves (Direitos Humanos) e Santos Cruz (Governo) são alvos de menções elogiosas, assim como o guru da direita Olavo de Carvalho. Ele, aliás, provocou um dos poucos momentos de descontração de Carlos no período. O vereador postou uma foto ao lado de seu cachorro poodle na frente do computador, onde assistia uma das aulas de Carvalho.
Flávio esquecido
As interações com o perfil do pai e do irmão mais novo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), são frequentes — além de citá-los, o vereador costuma reproduzir seus tuítes em seu próprio perfil. Porém, o irmão mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), fica de fora de suas manifestações no período analisado.
Mesmo vendo o irmão em meio às denúncias envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz e tendo suspeitas sobre sua movimentação bancária, Carlos Bolsonaro não fez nenhuma defesa de Flávio nos últimos dois meses. A única menção a ele foi lateral: o vereador compartilhou um vídeo no qual Eduardo bate boca com petistas que cobravam investigações contra Flávio no plenário da Câmara.
Carlos e Flávio cultivam rusgas desde 2016, quando o irmão mais velho teve um mal-estar durante um debate à Prefeitura do Rio e decidiu agradecer à rival Jandira Feghali (PCdoB), que o socorreu, por meio de uma nota oficial. A atitude foi motivo de críticas de Carlos e do pai.
Os dois travaram um novo round no ano passado, quando disputaram quem seria o candidato da família ao Senado. Após perder a disputa, Carlos desistiu de tentar outro cargo.
Levantamento feito em perfil de filho do presidente mostra que 72,2% do que ele escreve são ataques; elogios representam somente 8,8%, e citações a atos do governo, 8,4%.
O GLOBO procurou Carlos para comentar os dados do levantamento, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.
Por Igor Mello e Juliana Castro (O Globo)