Gaeco prende 21 agentes políticos em Turilândia por esquema de corrupção que desviou mais de R$ 56 milhões
Prefeito, primeira-dama, vice-prefeita e todos os vereadores do município são alvos da Operação Tântalo II.

Uma investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Maranhão, revelou um esquema sistemático de desvio de recursos públicos na Prefeitura de Turilândia, município localizado no interior do estado. As apurações resultaram na prisão de 21 agentes políticos e servidores, incluindo o prefeito, a primeira-dama, a vice-prefeita, ex-vice-prefeita e todos os vereadores da cidade.
A nova fase da Operação Tântalo, deflagrada nesta segunda-feira (22), foi autorizada pela desembargadora Graça Amorim, do Tribunal de Justiça do Maranhão. A magistrada determinou 10 prisões preventivas e 11 prisões domiciliares com uso de tornozeleira eletrônica, além de afastamentos de funções públicas, bloqueio de bens e suspensão de contratos administrativos.
Segundo o Ministério Público, o esquema criminoso funcionava desde 2021 e teria causado um prejuízo superior a R$ 56 milhões aos cofres públicos de Turilândia.

Estrutura do esquema e decisões judiciais
De acordo com as investigações, a organização criminosa operava por meio da chamada “venda de notas fiscais”. Empresas contratadas pela prefeitura emitiam notas por serviços não executados e devolviam entre 82% e 90% dos valores recebidos aos integrantes do esquema, principalmente ao prefeito José Paulo Dantas Silva Neto, conhecido como Paulo Curió.
A Justiça determinou:
-
o afastamento do prefeito, da vice-prefeita, da pregoeira do município e da chefe do Setor de Compras;
-
a suspensão das atividades econômicas do contador apontado como operador financeiro do esquema;
-
o bloqueio de R$ 22,3 milhões em contas bancárias dos investigados;
-
a suspensão de pagamentos e a proibição de novas contratações com dez empresas investigadas.
Ao todo, foram cumpridos 51 mandados de busca e apreensão, com a apreensão de cerca de R$ 2 milhões em espécie.
Impacto social e contexto do município
Na decisão, a desembargadora destacou o contraste entre o volume de recursos desviados e a situação social de Turilândia. O município possui cerca de 31,6 mil habitantes, IDH de 0,536, considerado muito baixo pelo IBGE, e depende quase integralmente de repasses federais e estaduais. Mais de 40% da população é beneficiária do Bolsa Família. A cidade conta com apenas duas escolas de ensino médio, não possui hospital e dispõe de saneamento básico para apenas 2% da população.
Núcleo familiar e liderança do esquema
O Ministério Público aponta Paulo Curió como líder máximo da organização criminosa. Na condição de ordenador de despesas, ele teria direcionado licitações, cooptado vereadores e articulado o desvio de recursos. Em menos de cinco anos, teria acumulado patrimônio incompatível com sua renda declarada, incluindo imóveis de alto padrão em São Luís, Turilândia e Barreirinhas, alguns registrados em nome de terceiros.
A esposa do prefeito, Eva Maria Oliveira Cutrim Dantas, a Eva Curió, também presa preventivamente, é apontada como integrante do núcleo financeiro. Segundo o Gaeco, ela gerenciava contas da prefeitura e da Câmara Municipal, realizava transferências ilícitas, pagava despesas pessoais com recursos públicos e articulava a aquisição de imóveis para lavagem de dinheiro.
Treze dias após a primeira fase da Operação Tântalo, o casal constituiu uma nova empresa agropecuária, com capital social de R$ 350 mil, que, segundo os investigadores, teria sido criada para dar continuidade ao esquema.
Outros familiares também aparecem citados nas investigações, incluindo o irmão do prefeito, Marcel Curió, ex-prefeito de Governador Nunes Freire, que já responde a ação penal por crimes semelhantes, além do pai, da irmã e da mãe de Paulo Curió, apontados como beneficiários diretos ou indiretos dos recursos desviados.
Prisões preventivas (10)
-
José Paulo Dantas Silva Neto (Paulo Curió) – prefeito de Turilândia
-
Eva Maria Oliveira Cutrim Dantas (Eva Curió) – primeira-dama
-
Tanya Karla Cardoso Mendes Mendonça – vice-prefeita
-
Hyan Alfredo Araújo Mendonça Silva – esposo da vice-prefeita
-
Wandson Jonath Barros – contador e operador financeiro
-
Janaína Soares Lima – ex-vice-prefeita
-
Marlon de Jesus Arouche Serrão – empresário, esposo da ex-vice
-
Clementina de Jesus Pinheiro Oliveira – pregoeira
-
Gerusa de Fátima Nogueira Lopes – chefe do Setor de Compras
-
Eustáquio Diego Fabiano Campos – médico, apontado como agiota e lavador de capitais
Prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica (11 vereadores)
A Justiça determinou prisão domiciliar a todos os vereadores de Turilândia, com autorização restrita para comparecimento à Câmara Municipal em dias úteis, exclusivamente para atividades legislativas:
-
Gilmar Carlos Gomes Araújo (União Brasil) – presidente da Câmara
-
Mizael Brito Soares (União Brasil)
-
Nadianne Judith Vieira Reis (PRD)
-
Daniel Barbosa Silva (União Brasil)
-
Josias Froes (Solidariedade)
-
Inailce Nogueira Lopes (União Brasil)
-
Carla Regina Pereira Chagas (PRD)
-
José Luís Araújo Diniz, o “Pelego” (União Brasil)
-
Sávio Araújo e Araújo (PRD)
-
José Ribamar Sampaio (União Brasil)
-
Valdemar Barbosa (Solidariedade), vereador licenciado e secretário municipal
Segundo o Gaeco, os parlamentares teriam recebido propinas em dinheiro, transferências bancárias e vantagens indiretas em troca de apoio político e omissão na fiscalização do Executivo.
Posicionamento dos investigados
A reportagem procurou o prefeito Paulo Curió e a Prefeitura de Turilândia para manifestação, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Também não foi possível contato com as defesas dos demais investigados.
O espaço permanece aberto para manifestação de todos os citados nesta reportagem.



