Líder do MBL critica Bolsonaro por demonizar a política
Deputado Kim Kataguiri condena organização de protesto no próximo fim de semana

BRASÍLIA — Líder do Movimento Brasil Livre (MBL) e deputado federal eleito pelo DEM em São Paulo, Kim Kataguiri diz que o presidente Jair Bolsonaro erra ao pregar discurso de demonização da política. Segundo ele, o presidente está adotando o mesmo tom radical que seu filho, o vereador Carlos, usa nas redes sociais. Kataguiri tem criticado as convocações para a manifestação de domingo a favor do presidente. Em entrevista ao GLOBO, ele fala sobre o fato de ser chamado de “comunista” nas redes sociais por apoiadores do governo. Avalia ainda que o público “radical” que decidiu ir às ruas é o mesmo que pediu intervenção militar à época da mobilização a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014. Leia a entrevista a seguir:
Por que o MBL é contra os protestos a favor de Bolsonaro?
É uma manifestação com tom autoritário, de fechamento de Congresso e Supremo, governista, uma coisa que, por mais que agora tentem diluir as pautas da manifestação, o mote principal é “nós apoiamos Bolsonaro e tudo o que ele fizer, incondicionalmente”, o que não é do nosso ideal defender esse tipo de adesismo.
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Estão chamando o senhor de comunista?
Estão me chamando de comunista. Inclusive eu falei com o Orlando (Silva, líder do PCdoB) outro dia para já assinar a minha carta de filiação. Todo mundo que se posiciona contrário é comunista. Quem discorda do Bolsonaro é comunista. Essa é a definição histórica de comunismo, discordar do Bolsonaro. É um discurso do Olavo (de Carvalho) demonizar qualquer pessoa que discorde do discurso dele.
Houve algum tipo de discussão interna ou divisões no MBL sobre as manifestações?
Não, isso é coisa de rede social. O MBL está bem coeso, uníssono, em não apoiar a manifestação.
As pessoas que vão à manifestação são as mesmas que pediram intervenção militar à época dos protestos a favor do impeachment de Dilma Rousseff?
Ah, sim. É a briga que a gente teve com o Olavo (de Carvalho) em 2014. A gente queria o impeachment, e o Olavo queria invadir o Congresso. Então, são os mesmos atores, influenciadores. Só que agora influenciando a cabeça do presidente da República.
Como se dava a interação entre esses grupos à época?
Nós entramos na Justiça para eles serem obrigados a ficar afastados da gente, porque eles sabiam que não conseguiam marcar nada sozinhos, sempre que a gente marcava, eles tentavam pegar carona. Aí a gente entrou na Justiça e conseguiu liminar para manter distância.
Isso atrapalha as reformas? Como fica o clima no Congresso?
Pior, a manifestação se saindo bem ou mal, piora o clima. Se essa manifestação for bem, haverá uma retaliação do Congresso, do Supremo, muito provavelmente em razão do discurso extremista da manifestação. Se a manifestação for mal, o centrão ganha força, porque o Planalto se enfraquece. A oposição ganha discurso, porque acabou de ter uma manifestação de esquerda (contra o corte na Educação). Então, em ambas as hipóteses, o governo fica prejudicado. Agora, há esse interesse do Parlamento em ter uma agenda própria e conduzir essa agenda. Eu acho que esse sentimento tem se espalhado. Pode ser que não atrapalhe o andamento, mas pode ser que provoquem a modificação do texto (da Previdência), que busquem deixar a digital do Congresso na reforma.
Os deputados do PSL também têm atacado o senhor?
Não, até onde eu vi, quem tem mais insuflado as manifestações é o Eduardo Bolsonaro e só. Os outros eu não vejo animosidade. Em outros, eu vejo a mesma insatisfação com o governo que eu tenho, que é dessa condução política desastrosa. Muitos parlamentares do PSL têm a mesma visão, mas eles não podem externar isso porque são do partido do presidente, se elegeram por causa do presidente.
Nas redes sociais, acusam o MBL de pedir o suicídio de Bolsonaro…
Isso é besteira. Era o Eric (Balbinus, integrante do MBL), ele estava (em uma live) lendo um artigo do Reinaldo Azevedo, que tinha isso como título. E depois, no trecho do vídeo que foi cortado, a gente inclusive estava criticando o exagero do tom.
Quão liberal é o governo Bolsonaro?
Na agenda econômica ele é liberal. Agora, a condução dessa agenda econômica é zero liberal. Politicamente, é zero liberal.
Quais são os maiores equívocos do governo até aqui?
O ruído interno. A briga entre liberais, militares e olavistas, o que gera ruído para fora. A demonização do Congresso. O filho tuitar por ele e ter a senha de acesso. Dar o mesmo tom radical da cabeça do filho. E a postura de demonização do Congresso e de perda de tempo com pauta irrelevante. Como aquele vídeo do carnaval. Falta de compromisso com a agenda do governo, da Previdência.
Por Bruno Goes (O Globo)