Mandetta contraria Bolsonaro ao pedir isolamento social
O Ministro da Saúde, Mandetta pede manutenção de restrições impostas pelos estados
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pediu nesta segunda-feira que sejam mantidas as recomendações feitas pelos estados para conter o avanço da epidemia do novo coronavírus, que já matou 159 pessoas e contaminou 4.579 no país. Os gestores locais têm imposto medidas para restringir a circulação de pessoas e de algumas atividades econômicas, na contramão do que quer o presidente Jair Bolsonaro.
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— Por enquanto mantenham as recomendações dos estados, porque nesse momento é a medida mais recomendável, porque temos muitas fragilidades ainda no sistema de saúde — disse Mandetta.
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Desde a entrevista coletiva de sábado, Mandetta vem dando declarações contrárias às de Bolsonaro. O Ministério da Saúde pede, por exemplo, para que as pessoas evitem ao máximo sair à rua, para diminuir o risco de contágio. Já Bolsonaro é favorável ao isolamento vertical, ou seja, apenas dos grupos de risco, como idosos e pessoas com outras doenças.
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Mandetta não citou o termo “isolamento vertical”, mas indicou que ele não é capaz de funcionar. Segundo dados do Ministério da Saúde, 90% das mortes foram entre as pessoas com mais de 60 anos.
— É só pegar as pessoas com mais de 60 anos e cuidar? Como se essas pessoas estivessem dentro de uma cápsula. Essas pessoas moram com vocês, têm netos, têm filhos, trabalham, pegam ônibus, são ambulantes — disse Mandetta.
O ministro voltou a defender a necessidade de distanciamento entre as pessoas como forma de combater o vírus.
— É preciso todo mundo entender que vamos ter um código de comportamento, de distanciamento entre pessoas, de respeito, de não aglomeração, de funcionar para que agente não tenha uma paralisia e morra de paralisia, mas também não tenha um frenesi que cause um megaproblema como nesses países — afirmou o ministro.
— A pasta continua técnica, continua científica, e trabalhando dentro do seu planejamento — comentou.
O ministro participou da primeira coletiva em novo formato. A partir de agora não haverá mais entrevista com integrantes da pasta na sede do ministério. As coletivas serão no Planalto, com a participação de outras pastas.
Última palavra de Bolsonaro
Mandetta destacou o exemplo dos Estados Unidos, em que o presidente Donald Trump teve que adiar o prazo para que medidas restritivas continuem valendo por lá. Mas destacou que, no Brasil, a última palavra será do presidente Bolsonaro, a partir de informações levantadas pelo Ministério da Saúde e outras pastas do governo.
— Quem fala que vai ser dia 1, dia 6, dia 7, dia 18, dia 19… Todos os países que se comprometeram com tempo bateram com a cara na porta. Ontem foi o Trump que teve que passar da Páscoa (12 de abril) para o dia 30 de abril, por que os Estados Unidos precisam até o dia 30 para se organizar — disse Mandetta.
O ministro apontou que, se demorar muito para parar as atividades, a medida não terá efeito, citando os casos da Itália e da Espanha.
— Parar quando está no lá ápice, aí a epidemia vai seguir seu curso, mesmo tendo parado até o final — disse o ministro.
Mandetta também deu conselhos na hora de pegar um táxi ou carro de aplicativo:
— Pode andar de táxi e Uber? Pode. Dá para andar no banco da frente? Não. Dá para andar três [passageiros] no carro? Não, tem que ser dois atrás.
Ele, que afirmou ser católico, também reconheceu que a Páscoa será uma época difícil, uma vez que a recomendação é evitar aglomerações, como missas e procissões. Ele citou o exemplo do papa Francisco, que está celebrando missas sem público.
— A Páscoa, semana santa, eu sou católico, eu sou católico mesmo, eu vou, eu rezo, eu gosto. As procissões, a missa de Páscoa, as aglomerações familiares, o almoço de Páscoa, o chocolate, o coelhinho, isso tudo vai mexer com as emoções de todos nós. E nós vamos ter que ser muito resilientes — disse Mandetta.
Ataque às estatísticas da China
Mandetta chamou de “super fake”, ou seja, super falsas, as estatísticas da China sobre o novo coronavírus. Segundo o último boletim da Organizaçã Mundial da Saúde (OMS), o país asiático, onde a pandemia começou, teve 82.447 casos e 3.310 mortes. Para Mandetta, houve mais casos na China.
Também de acordo com a OMS, já houve mais casos nos Estados Unidos (122.653) e Itália (97.689). A Espanha, com 78.797, é outro país que caminha para ultrapassar a China. Itália e Espanha também já têm mais mortes: 10.781 e 6528 respectivamente. Os dados da OMS são informados pelos próprios países.
— Imagina a a China com 1,5 bilhão de pessoas, a China falar que teve só 80 mil casos? Super fake — disse Mandetta.
Desculpas à imprensa
O ministro ainda pediu desculpas por ter afirmado, no último sábado, que os meios de comunicação são “sórdidos”. Mandetta, que havia dito que os veículos de imprensa só querem notícias ruins, admitiu que errou:
— Aliás, aqui eu falei que o meio de comunicação outro dia…Ficaram bravos comigo, puxaram minha orelha lá na Globo, porque eu fiz um comentário sobre a cobertura, e eu peço desculpas. Eu acho que a gente, quando erra, a gente erra — disse.
No sábado, ele havia recomendado a população a desligar “um pouco” a televisão, porque ela é “às vezes ela é tóxica demais”. Mandetta afirmou que o quis dizer foi para as pessoas relaxarem com outras coisas que não as notícias sobre o coronavírus:
— Agora, sempre procurar todo mundo fazer o seu melhor. Levar a melhor informação. E, naquele momento, o que eu dizer era o seguinte: leia um livro, escuta uma música, procura conversar. Estamos na Quaresma, leia um pouco a Bíblia. Procure outras possibilidades — disse, acrescentando: — Tem que fazer esporte, tem que caminhar. Acho que é isso daí, é nesse sentido.