Morre o mestre, morre parte da Imprensa.
Morreu o profissional do jornalismo mais completo da Imprensa Brasileira.

Alberto Dines, 86 anos, jornalista, crítico de arte, escritor, e tantas outras funções o destacam como o profissional mais completo da Imprensa Brasileira.
Tive contato com Dines na época da graduação em Jornalismo, através de uma revista acadêmica, descobrir o Portal Observatório da Imprensa, criação dele em abril de 1996. Pelo nome me chamou a atenção, pois é difícil encontrar proposta de veículos de comunicação com um olhar alternativo sobre ele mesmo.
Desde esse momento, o portal foi para mim, uma escola de Jornalismo na prática. Quando descobrir que a plataforma recebia textos de terceiros, me animei, e fiz meu primeiro texto chamado de, “O espetáculo é Fantástico”, análise discursiva que fiz sobre o programa Fantástico da Rede Globo.
Com isso, não parei mais de escrever e enviar para o Observatório.
Dines, faz parte de uma geração de jornalista da história mais cruel da nação brasileira, a ditadura. Portanto, escrever com criatividade nesse contexto, seria o diferencial, e ele soube utilizar desse recurso como nenhum outro. Cheio das metáforas, escrita arguta, criticidade de ferro na semântica dos textos opinativos. Não poderia deixar de escrever o que ele representou para mim, mesmo sem conhecer o criador, mas me envolvi com a criação.
Naquele situação militar do Brasil, o profissional que não tinha a capacidade crítica sobre o contexto político, não era digno de ser chamado um profissional da imprensa.
Não era Jornalista por formação, mas fez da sua completude crítica, a formação na comunicação mais plena e voraz que existe.
Fazia dos seus textos verdadeiros panfletos de inquietação, e ardilosidade diante do olhar holístico sobre a sociedade da mídia, dos coronéis da imprensa, e dos mandos e desmandos das corporativas de comunicação desse País.
A imprensa Brasileira diminui com sua partida, mas cresce pelo inteligente legado, que assim como me despertou, passa a revelar como a nossa imprensa trabalha da forma mais oculta possível, com máscaras, camuflada, com falsas verdades. Em uma época que tanto se fala em fake news e pós verdade, Dines para além do seu tempo, bateu nessa tecla, os discursos hereges que a mídia apresenta, sem se dar conta da perigosa interpretação que o público fará dos fatos.
Ele ensina, que fazer jornalismo do mesmo jeito, é fazer um jornalismo cheio de amarras e sem a essência, que é informar mergulhado na verdade, criticidade que todo Jornalista precisa incutir na sua carreira profissional, e em seus textos como a matéria prima do nosso ofício.
Dines vive, e viverá como antes.
Morre o mestre, mas não a sua criação.
Obrigada pelos ensinamentos!
Texto: Tamara Cristina