Senador bolsonarista Arolde de Oliveira morre vítima da Covid-19
O senador e empresário carioca foi deputado federal por nove mandatos seguidos
RIO DE JANEIRO — O senador bolsonarista Arolde de Oliveira (PSD-RJ) morreu na noite desta quarta-feira (21) vítima de falência múltipla dos órgãos em consequência da Covid-19. Ele estava internado desde o dia 4 deste mês no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio. Com 83 anos, o político teve uma série de complicações no seu quadro de saúde nos últimos dias. Ele será substituído no Senado pelo advogado Carlos Portinho, seu primeiro suplente.
Com liderança entre os evangélicos e longa trajetória na política fluminense, Arolde Oliveira chegou ao ápice de sua carreira política ao se eleger senador em 2018, na esteira da onda bolsonarista. Ele fez “dobradinha” com Flávio Bolsonaro (Republicanos) na disputa que levou dois senadores para Brasília. Arolde ficou em segundo lugar, com 2.382.265 votos, o equivalente a 17,06% dos votos válidos, derrotando nomes tradicionais da política do Rio, como Cesar Maia (DEM), Lindbergh Farias (PT) e Chico Alencar (PSOL). O parlamentar foi fundador do Grupo MK que reúne, entre outras empresas do segmento gospel, a rádio 93 FM, no Rio, que mantém programação religiosa.
Político com plataforma conservadora, chegou a negar os riscos da Covid-19, alinhando seu discurso com o do presidente Jair Bolsonaro. Em uma postagem no Twitter em 11 de agosto, ironizou o perigo que representa o novo coronavírus.
“Efeito covidão? Total de óbitos de abril a julho em 2019, 437.433, e em 2020, 491.336, aumento de 53.903. Como se os inimigos do Brasil comemoraram 100.000 mortes só pelo vírus chinês? Acho que muita gente vai responder por crime de corrupção e até de homicídio. Aguardemos…”, postou.
Em abril, o senador questionou na mesma rede social a eficácia do isolamento social.
“Os números do vírus chinês no mundo e no Brasil demonstram a inutilidade do isolamento social. Autoridades, alarmistas por conveniência, destruíram o setor produtivo e criaram milhões de desempregos. O Presidente @jairbolsonaro, isolado pelo STF, estava certo desde o início.”
Arolde nasceu no Rio Grande do Sul. Cursou a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e depois se formou como engenheiro pelo Instituto Militar de Engenharia (IME). A especialização foi na área de Telecomunicações.
Em sua trajetória na vida pública, o senador do PSD foi nove vezes deputado federal e ocupou os cargos de secretário de Transporte do município do Rio e secretário de Trabalho e Renda do Estado do Rio.
Na campanha ao Senado, Arolde de Oliveira destacou três pontos para conquistar o voto conservador, em especial os evangélicos. O primeiro deles foi a defesa da família em que ele ressaltava ser contra a legalização do aborto, das drogas e dos jogos de azar. Também afirmou ser contra a ideologia de gênero e sexualização das crianças e a favor da escola sem partido.
Após ser eleito, em entrevista ao GLOBO, Arolde, que era casado com Yvelise de Oliveira, afirmou que era o momento de os conservadores reverterem a “revolução cultural” imposta pelo PT no país. Com essa intenção, ele assumiu a presidência da Frente Parlamentar mista em Defesa da Cultura e do Desenvolvimento Social. Para o parlamentar, obras que tratam de ideologia de gêneros deveriam ser controladas para o público infanto-juvenil.
Luto oficial
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, decretou luto oficial em homenagem à memória do senador.
“Infelizmente, mais um brasileiro perdeu a vida por consequência desse vírus que já ceifou mais de 150 mil pessoas do nosso País (…) Um dia triste para esta Casa. Um dia triste para os seus eleitores, admiradores, amigos e, especialmente, os seus familiares. Que Deus o receba em sua infinita misericórdia e console sua família neste momento de dor”, disse Alcolumbre, em nota.
Pelas redes sociais, o PSD divulgou nota sobre a morte de Arolde. A postagem foi aberta com um Salmo: “Preciosa e à vista do Senhor a morte dos seus santos”.
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, também decretou luto de três dias na cidade pelo falecimento do parlamentar.
“Hoje, 21/10, nos lares do Rio de Janeiro, há uma lágrima em cada olhar e em cada coração, um sentimento de saudade e tristeza. Perdemos o nosso senador Arolde Oliveira, que honrou e dignificou os votos que recebeu em sua brilhante e imaculada carreira política. Foi também deputado constituinte e secretário de transportes de nossa cidade, sempre com uma trajetória digna e honesta. Eu e minha família estamos orando para que Deus conforte seus familiares, amigos e admiradores. Amanhã, 22/10, será decretado luto oficial de três dias no município do Rio de Janeiro, em memória a este grande líder que partiu.”
Em nota, o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, também lamentou a morte de Arolde de Oliveira.
“Recebo com profundo pesar a notícia do falecimento do senador Arolde de Oliveira, na noite desta quarta-feira (21/10), vítima da Covid-19. Seu trabalho na política e na comunicação do Brasil deixam um legado social em prol da população, em especial dos fluminenses. Minha solidariedade aos familiares e amigos, assim como a todos aqueles que perderam entes queridos nesta pandemia. O Governo do Estado decreta luto oficial de três dias.”
Primeiro suplente de Arolde de Oliveira, Carlos Portinho assumirá a vaga no Senado. Também filiado ao PSD, Portinho foi secretário de Habitação na gestão do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e é muito próximo do deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ) e do ex-deputado Indio da Costa (PSD).
Hoje, Portinho faz campanha nas redes sociais pela candidatura de Luiz Lima (PSL-RJ) à prefeitura do Rio. Aliados de Paes atribuem a Portinho o vazamento de um vídeo no qual o prefeito usa palavras de baixo calão ao entregar uma casa popular a uma beneficiária. O conteúdo foi utilizado por adversários na campanha ao governo estadual em 2018 e tem sido usado na campanha à prefeitura este ano.
Por O GLOBO