A doce vida de Fabrício Queiroz em Atibaia-SP
Muito churrasco, jogo de bola, cerveja e broncas de sua mulher
Ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz teve um rotina pontuada por churrascos, futebol e broncas da mulher nos meses que passou em Atibaia (SP), segundo aponta a investigação do Ministério Público do Rio (MP-RJ). Preso preventivamente na operação “Anjo”, quinta-feira, Queiroz estava há cerca de um ano no interior paulista, em um endereço de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro.
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Em tratamento de um câncer no intestino, motivo alegado repetidas vezes por seus advogados para não prestar depoimento presencialmente, Queiroz levou medicamentos para a casa de Atibaia — ele alegou, inclusive, que não ouviu os policiais à porta por ter tomado um remédio para dormir.
Mas o ex-assessor de Flávio também tinha seus momentos de lazer. No dia 8 de dezembro, última rodada do Brasileiro de 2019, Queiroz posou para foto vestindo camisa do Vasco e preparando um churrasco, com direito a cerveja.
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O registro apareceu em mensagens enviadas por Queiroz à mulher, Márcia Oliveira de Aguiar, que está foragida. No diálogo, Queiroz conta que tinha a companhia do filho, Felipe, e de suas “amiguinhas”:
“Até que enfim, hein mulher. Acordou, hein. Devia ter tomado todas ontem. Felipe arrumou umas “amiguinhas” aqui. Nós então fizemos um churrasquinho aqui. Umas garotinhas “bacaninhas” e vimos o Cruzeiro ser rebaixado… o Cruzeiro ser rebaixado tomando uma Corona aqui com limãozinho… Muito bom!”.
Em outras imagens obtidas pelo MP, Queiroz posa falando ao celular e manuseia um peixe na cozinha da casa. De acordo com os investigadores, o “Anjo” — apelido atribuído a Wassef —havia montado um esquema cuidadoso para evitar que a localização de Queiroz fosse descoberta. Toda vez que o ex-assessor de Flávio chegava a Atibaia, por exemplo, seu celular era desligado, de modo a dificultar a localização. No entanto, os investigadores foram capazes de rastreá-lo a partir das fotos enviadas à mulher e também ao filho.
O comportamento de Queiroz rendeu algumas broncas com a mulher durante a estadia em Atibaia. Em outubro, depois que uma reportagem do GLOBO revelou um áudio em que Queiroz negociava cargos no Congresso Nacional, uma de suas filhas, Nathália, chamou o pai de “muito burro” em conversa com Márcia Aguiar. A atual mulher de Queiroz relatou a Nathália sua irritação com o marido:
“Cara, é foda! Não sei cara, quando é que teu pai vai aprender a fechar o caralho da boca dele? Eu tô cansada! Ainda bem que eu não fui pra lá. Quem foi foi o Felipe. É foda cara! Quando a gente está prestes a conseguir alguma coisa vem essa bomba aí. Foda!”.
Em seguida, ainda de acordo com o MP, Márcia entrou em contato diretamente com Queiroz: “Estou chateada porque você foi traído, e para você falar isso é porque você confiava na pessoa”, escreveu.
Queiroz também acompanhou o julgamento no STF da ação sobre uso de informações do Coaf em investigações do MP. No fim de 2018, um relatório do Coaf apontou que o ex-assessor tinha movimentado R$ 1,2 milhão de forma considerada “atípica”, o que deu início à investigação sobre “rachadinhas” no gabinete de Flávio.
Naquele período, Wassef, que defende Flávio no caso da “rachadinha”, acompanhava o julgamento do STF em Brasília: “Ele tá de boa. Sabe o que faz. Ele só (não) quer eu aí no Rio”, explicou Queiroz à mulher.
Por Bernardo Mello, Juliana Dal Piva e João Paulo Saconi (O GLOBO)