General espião vai ter que se explicar na Câmara Federal
Requerimento de Márcio Jerry convoca general para conter abusos do militar
O deputado federal Márcio Jerry (PCdoB) deve protocolar na Câmara Federal requerimento convocando o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno Ribeiro, para prestar esclarecimentos sobre a espionagem política da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organismo permanente que reúne os bispos católicos no Brasil.
A iniciativa do deputado maranhense é relevante para mostrar ao general que no papel de ministro ele é obrigado a se submeter às decisões da Câmara, caso o requerimento seja aprovado, e apresentar explicações da espionagem do governo às atividades da CNBB e ao Sínodo da Amazônia que a Igreja Católica de todo o mundo realizará em outubro em Roma.
O requerimento do deputado maranhense também será um teste para o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM), reeleito para o cargo com o apoio do PCdoB e do PDT, diante desse grave atentado às liberdades individuais.
Maia é fundamental para a aprovação do requerimento diante de um plenário, cuja a maioria tende a defender o governo Bolsonaro e pouco se importa com a proteção efetiva da Amazônia, de quilombolas e de índios ameaçados pela insanidade bolsonarista.
Ou se contém o general agora ou ninguém mais conseguirá evitar a inaceitável volta da doutrina de segurança nacional da ditadura, como bem alertou o governador do Maranhão, Flávio Dino.
Em nota divulgada no domingo, o GSI revelou a preocupação com alguns pontos da pauta do Sínodo e que parte dos temas “tratam de aspectos que afetam, de certa forma, a soberania nacional”.
O general trata a Igreja Católica como uma inimiga interna não só pela possibilidade de liderar a oposição às propostas do governo contra os interesses da população mais pobre do País, mas também pelo papel fundamental que ela desempenhou na luta contra à ditadura militar e na defesa dos direitos humanos.
Nas palavras do saudoso arcebispo de Olinda, dom Helder Câmara, a explicação para o comportamento do general com as pautas sociais defendidas pela CNBB:
“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”.
Por Raimundo Garrone