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Para puxar o saco de Bolsonaro, presidente da Fundação Palmares agride negros

Em áudio de reunião, presidente da Fundação Palmares se refere ao movimento negro como 'escória maldita'

Enquanto o movimento negro promove atos globais contra o racismo, impulsionados após o assassinato de George Floyd pela polícia de Minneapolis, nos Estados Unidos, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, tem desferido ataques via redes sociais às demandas e aos lemas dos membros dessa militância . Camargo chegou a se referir a eles como “escória maldita” em uma reunião com assessores no fim de abril.

No Twitter,  Camargo afirmou na última segunda-feira que “a influência do movimento negro sobre os negros é perniciosa e deletéria”, no sentido de que essa forma de organização social teria efeitos destrutitivos sobre as pessoas que pretende representar. Ele também manifestou, mais uma vez, o desejo de revogar a realização do Dia da Consciência Negra no país, celebrado em 20 de novembro. Por fim, ameaçou bloquear das redes sociais aqueles que aderissem ao slogan dos protestos iniciados nos EUA (“Black lives matter”, o equivalente a “Vidas negras importam”).

Perigo nas redes:George Floyd não está morto e George Soros está por trás de tudo – a desinformação sobre os protestos

“Escreveu ‘Vidas negras importam’ leva block automático! Vidas importam, sem adjetivação de cor, raça ou etnia”, publicou Camargo ontem, quando norte-americanos protestavam por Floyd pelo sétimo dia consecutivo, após ele ter sido morto asfixiado na  rua por um policial.

Áudio de uma conversa entre Camargo e dois assessores, registrado no dia 30 de abril e obtido pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, evidencia o presidente da Fundação Palmares adotando posições ainda mais enérgicas em seu antagonismo ao movimento negro nos bastidores de sua gestão na entidade. O encontro ocorreu, conforme apurou a publicação, para tratar do desaparecimento de um celular corporativo de Camargo, que se irritou com a cobrança do ressarcimento do aparelho.

As falas registradas mostram Camargo afirmando que estava afastado judicialmente do cargo quando o celular sumiu e sugerindo que poderia ter sido alvo de um furto proposital, com o objetivo de prejudicá-lo. Nesse momento da conversa, ele se refere ao movimento negro como “escória maldita”.

– Qualquer um. Eu exonerei três diretores nossos assim que voltei. Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadindo esse prédio aqui pra me espancar. Quem poderia ter feito isso? Invadindo com a ajuda de funcionários daqui. O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita – afirmou Camargo, após ser questionado por um dos assessores sobre quem poderia ter pegado o celular.

No mesmo áudio obtido pelo jornal, Camargo relata que teria contraído cerca de R$ 50 mil em dívidas, e tentaria parcelar o valor do celular em dez vezes, após ter sido impedido pela Justiça Federal de permanecer no cargo e precisar devolver o salário referente ao mês de dezembro do ano passado. A decisão judicial, suspensa em fevereiro pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi proferida sob o argumento de que as declarações de Camargo eram incompatíveis com o comando da fundação. Após comentar a ação que tramitou no Judiciário, ele recomendou aos assessores que o ajudassem a promover retaliações contra funcionários de esquerda, culpando o espectro político pelo seu afastamento.

– Esses filhos da puta da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer – recomendou Camargo aos assesores, um deles coordenador de gestão.

Ainda na reunião de 30 de abril, o presidente da Fundação Palmares criticou Zumbi dos Palmares, líder quilombola que dá nome à entidade, a quem se referiu como “um filho da puta que escravizava pretos”. Em outro momento, chamou uma mãe de santo de “macumbeira” e disse que não direcionaria verbas a terreiros, os templos das religiões de matriz afro-brasileira.

– Não vai ter nada para terreiro na Palmares enquanto eu estiver aqui dentro. Nada. Zero. Macumbeiro não vai ter nem um centavo – disse Camargo, que também tratou do tema em outro momento da reunião: – Tem gente vazando informação aqui para a mídia, vazando para uma mãe de santo, uma filha da puta de uma macumbeira, uma tal de Mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo – reclamou, fazendo referência a Adna dos Santos, conhecida como Mãe Baiana, uma das expoentes do candomblé no Distrito Federal.

Em nota divulgada nesta terça-feira (leia a íntegra abaixo), Camargo disse que “lamenta a gravação ilegal de uma reunião interna e privada” e fez ponderações sobre o perfil de sua gestão à frente da Fundação Palmares, afirmando que a implantou um  “novo modelo de comando (…) voltado para a população e não apenas para determinados grupos” que teriam, segundo ele, utilizado o dinheiro público para atuar como representantes autointitulados de toda a população negra.

Leia a íntegra da nota de Sérgio Camargo:

O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Sérgio Camargo, lamenta a gravação ilegal de uma reunião interna e privada. Assim, reitera que a Fundação, em sintonia com o Governo Federal, está sob um novo modelo de comando, este mais eficiente, transparente, voltado para a população e não apenas para determinados grupos que, ao se autointitularem representantes de toda a população negra, histórica e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público.

Infelizmente ainda existem, na gestão pública, pessoas que não assimilaram esta mudança e tentam desconstruir o trabalho sério que está sendo desenvolvido. Seguimos firmes em prol do Brasil e dos brasileiros! (Sérgio Camargo)“.

Por O GLOBO

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