Queiroz fez depósitos de R$ 72 mil a Michelle Bolsonaro
A mulher de Queiroz também fez pagamentos à atual primeira-dama, no valor de R$ 17 mil
O policial militar reformado Fabrício Queiroz repassou R$ 72 mil a Michelle Bolsonaro, mulher do presidente Jair Bolsonaro, quando era funcionário lotado no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. A informação, revelada nesta sexta-feira pela revista “Crusoé”, lançou dúvidas sobre a natureza dos pagamentos feitos pelo ex-assessor à família do presidente. Em 2018, Bolsonaro alegou que Queiroz havia feito depósitos para pagar uma dívida de R$ 40 mil, valor inferior ao revelado pela “Crusoé”.
Analítico:Cheques de Queiroz para Michelle batem no capital político de Bolsonaro
Além da quantia repassada por Queiroz, sua mulher, Márcia de Aguiar, também destinou R$ 17 mil em cheques para Michelle, segundo informação revelada pelo jornal “Folha de S. Paulo” e confirmada pelo GLOBO.
Entrevista:Flávio Bolsonaro diz que Queiroz pagava suas contas pessoais
Entenda a seguir, em seis pontos, o que se sabe e o que ainda falta ser respondido sobre os repasses de Queiroz à primeira-dama.
Qual foi o valor total repassado por Fabrício Queiroz e sua mulher, Márcia, à primeira-dama Michelle Bolsonaro?
O valor total foi de R$ 89 mil. Segundo reportagem da revista “Crusoé”, Fabrício Queiroz repassou R$ 72 mil em 21 cheques descontados por Michelle entre 2011 e 2016. Foram três cheques em 2011, seis em 2012 e três em 2013 – cada um no valor de R$ 3 mil -, além de outros nove cheques em 2016, somando R$ 36 mil. O jornal “Folha de S. Paulo” informou ainda que Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, repassou R$ 17 mil para Michelle em 2011, em seis cheques: cinco de R$ 3 mil e um de R$ 2 mil.
Qual foi a justificativa apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro?
No fim de 2018, após um relatório do Coaf apontar um repasse de Queiroz para Michelle no valor de R$ 24 mil, em cheque, o presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou que o depósito era o pagamento de um empréstimo que havia feito ao ex-assessor de seu filho. A dívida total, segundo Bolsonaro afirmou à época, era de R$ 40 mil, que teriam sido pagos por Queiroz em dez cheques de R$ 4 mil. O presidente ainda não se manifestou sobre a revelação de mais depósitos nesta sexta-feira.
Por que os cheques foram descontados por Michelle, e não por Bolsonaro?
Segundo o presidente afirmou no fim de 2018, a primeira-dama descontou os cheques porque ele não tinha “tempo de sair”.
Houve algum depósito de Bolsonaro na conta bancária de Queiroz?
Não. Embora o presidente tenha dito que emprestou dinheiro a Queiroz, a quebra de sigilo do ex-assessor não identificou nenhuma transferência em nome de Jair Bolsonaro.
Bolsonaro já afirmou que não fez um recibo do empréstimo a Queiroz. O presidente tampouco explicou se fez o empréstimo em dinheiro vivo. Segundo a quebra de sigilo, Queiroz recebeu R$ 900 mil em espécie entre 2007 e 2018 sem identificação de autores dos depósitos.
Os repasses têm relação com o esquema de “rachadinhas” investigado pelo MP-RJ?
Em nota divulgada nesta sexta-feira, o MP informou que a primeira-dama “não faz parte do escopo das investigações sobre a prática de rachadinha” no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro entre 2007 e 2018. A quebra de sigilo de Queiroz, que foi assessor de Flávio neste período, mostrou que o policial reformado recebeu 483 depósitos de pelo menos 13 assessores no valor total de R$ 2 milhões. O MP também já apontou que, no mesmo período, Queiroz fez saques em espécie que totalizaram R$ 2,9 milhões.
O presidente Jair Bolsonaro pode ser investigado pelos repasses de Queiroz à primeira-dama?
A Constituição diz que o presidente da República “não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções” durante o mandato. Por se tratarem de repasses feitos antes de Bolsonaro assumir a Presidência, não poderia haver uma denúncia da Procuradoria-Geral da República, por exemplo, numa eventual conexão entre os pagamentos e alguma atividade ilícita.
O entendimento de alguns juristas, no entanto, é que a chamada “imunidade penal temporária” do presidente não impede que sejam realizadas diligências para recolhimento de provas, por exemplo. Por este entendimento, Bolsonaro poderia ser investigado, mas não denunciado.
Por Bernardo Mello (O GLOBO)