Agricultores: Nossas Heroínas e Heróis Anônimos
Artigo escrito pelo professor José Lemos (Universidade Federal do Ceará)
A agricultura é a primeira e a mais fundamental de todas as ciências. Somente foi possível o mundo avançar depois que o ser humano evoluiu da condição de ser apenas extrativista. A propósito veja-se o que se lê na página 103 do livro “Armas, germes e aço” de Jared Diamond: “Inicialmente, todos os povos da terra eram caçadores-coletores. Por que nenhum deles adotou a produção de alimentos? Considerando que eles deviam ter algum motivo, por que o fizeram por volta de 8500 a.C. na área mediterrânea do Crescente Fértil? … Por que mesmo os povos do Crescente Fértil esperaram 8.500 anos a.C., em vez de se tornarem produtores de alimentos já em 18.500 ou 28.500 a.C.?”
O fato é que essa mudança de comportamento do ser humano provocou uma revolução na humanidade. Tendo conseguido domesticar plantas e animais, e trazer para perto de si a sua produção, não haveria a necessidade de todos produzir a própria comida. Os Agricultores o fariam e liberariam os outros humanos para exercitarem outras vocações, outros talentos. Assim, o começo de todo o avanço cientifico na humanidade tal como conhecemos somente foi possível quando surgiu a Agricultura.
Nestes dias em que vamos a um supermercado e encontramos nas suas prateleiras, lascas de bifes devidamente acondicionados, frutas frescas e cereais empacotados, achamos tudo tão normal. Quem tem menos de 30 anos não concebe um mundo sem internet, comunicação instantânea, aparelhos eletrônicos de ultima geração, aviões poderosos cruzando os céus… Tudo isso somente é possível devido ao que aconteceu porque seres humanos inventaram agricultura. Bom refletir sobre isso!
Quem produz tudo isso, que insistimos em não reconhecer, são sujeitos anônimos. Em geral pessoas muito simples. Que acordam com o cantar do galo, quando sequer surgiram os primeiros raios do sol e se recolhem quando ele já está se pondo: Agricultoras e Agricultores, com “A’s” maiúsculos.
Fábricas de confecções, oficinas mecânicas, padarias, ou indústrias de quaisquer portes funcionam com espaço definido para abrigarem os trabalhadores e os protegerem do sol e das chuvas. Os agricultores são os únicos trabalhadores cujas “oficinas” ou “fabricas” funcionam em céu aberto. Literalmente, estão sujeitos a chuvas e trovoadas. Não tem direito a feriados, dias santos, férias, “ficar em casa” por causa do vírus chinês… A lide é diária, de primeiro de janeiro a trinta e um de dezembro. No meio dessa trajetória, se estiverem no Nordeste, experimentarão riscos como secas. Caso estejam no Sudeste ou no Sul estarão sujeitos às friagens, geadas. Se estiverem na Amazônia, além de enchentes, serão acusados por “çabios”, inclusive estrangeiros, de destruidores da natureza, porque limpam as suas pequenas áreas usando o fogo (a única tecnologia que tem ao alcance) para fazer a sua pequena área produzir. Terá que deixar intactos ao menos 80% dela por designação legal, mas isso não interessa a quem “conhece” a Amazônia indo nas suas belas metrópoles como Belém e Manaus para usufruir as delícias que apenas existem porque as matérias primas foram produzidas por esses “destruidores da natureza”. Jamais adentram na “mata” para verem como vivem e como produzem aquilo que acham maravilhoso encontrar nas cidades. Haja hipocrisia!
Os fabricantes de confecções, de sapatos, e outros bens, se não forem assaltados, claro, ao final de um período de trabalho terão uma quantidade de bens que serão vendidos por preços remuneradores determinados por eles. Caso não consigam vendê-los de imediato podem armazenar por tempo indefinido.
Os agricultores, ao contrário, quando conseguem superar geadas, secas, pragas, doenças nas lavouras, ou nas criações e as acusações de “çabichões”, na época da colheita terão as suas produções agregadas a de outros agricultores. Todos ofertam o mesmo tipo de bem e ao mesmo tempo, devido à sazonalidade da produção agropecuária. A produção biológica, no geral, é assim. Como decorrência os preços caem. Não têm controle sobre os preços dos bens que produzem e queiram vender. A época da colheita, que deveria ser de sua redenção, pode se transformar em pesadelo. Como produzem bens perecíveis ficam ainda mais vulneráveis nas negociações.
Mas as Raimundas, Raimundos, Severinas, Severinos, Teresas, Franciscos, Joanas, Joãos, Marias, Pedros, Josefinas, Josés, Fátimas, “Bastiãos”,… não desistem. Em geral são pessoas dotadas de muita fé e seguem produzindo a comida nossa de cada dia. Gente que tem idade aparente bem acima da biológica e que não perde a vontade de viver tendo a natureza como aliada. Mesmo nas adversidades que são todas.
Os Agricultores são os nossos “Anjos da Guarda”. Sem eles não seriamos Professores, Engenheiros, Médicos… Sequer poderíamos exercitar a nossa função de “Xatos” acusando-os de usarem “agrotóxicos” quando de fato utilizam “defensivos agrícolas” para poderem produzir comida, para todos nós e, paradoxalmente, para esses “Çabios” que os acusam de “destruidores da natureza”.
O Dia 28 de julho é para reverenciar os nossos Heróis e Heroínas anônimos: nossas Agricultoras. Nossos Agricultores! Que tenham vidas longas!
Por José Lemos (Professor Titular na Universidade Federal do Ceará)
Um bom texto para homenagear o Dia do Agricultor. Data instituída em 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, nos 100 anos de criação do Ministério da Agricultura. Uma mensagem de reconhecimento aos agricultores pelo trabalho laborioso, que exercem suas atividades no manejo do solo para produção de alimentos destinados ao abastecimento das cidades. E dessa maneira, e graças a esses patriotas, homens e mulheres de bem, que os alimentos chegam direta ou indiretamente à mesa dos brasileiros, garantindo-lhes à sobrevivência e tempo para atuarem em outros setores da economia.
Parabéns, professor José Lemos.
Paulo Fernando Costa
Auditor Fiscal Federal Agropecuário do MAPA
Aposentado